Um casamento quase feliz
Era início da tarde quando nos encontramos, fazia sol e eu estava linda. “Ficas tão linda no sol”, declarou.
Despejou toda a sua vida em meus olhos...
A força do seu amor quebrou-me em pedaços... Sustentei-me nos fragmentos de mim mesma, tateando-me e recompondo-me num andar ainda mais coxo.
Fui pertencida pelo seu amor e fez-me prometer que o protegeria de todo o mal.
Escreveu em meu caderno de anotações essas palavras: “Os abismos das coisas (quem os nega?) em nós abertas inda em nós persistem. Quantas vezes os beijos que te dou na água dos teus olhos é que existem”. Não sei se eram suas ou de outro poeta... a vida não deixou tempo para saber...
Casamo-nos e moramos juntos num endereço que me ditou ao telefone. Tivemos uma filha, pele negra e olhos azuis... uma beleza incomum.
Ele era feliz comigo... Pedia-me que confessasse as coisas só com os olhos... para mim era bom, pois sempre tinha dificuldade de falar... também pedia que fingisse um amor desesperado, falou-me que eu fingia bem... gostava de beijar meus olhos fechados e rindo dizia que eram como cabeça de passarinho...
Às vezes procurava a mulher e só encontrava a menina... quando isso acontecia ríamos juntos...